sábado

Eleições: Curral Eleitoral

(Para o amigo Fioravante – setembro de 2008)

Tardezinha ...as eleições se aproximando ... eu, fazendo minha caminhada, recordei me de um fato que aconteceu há muitos anos, mas ainda trago-o bem vívido na memória ... Ouvi no salão de barbeiro do papai, ponto de causos e prosas, assuntos sobre a eleição de 47 e o caso do Zé Forgado...

Antes, queda do poder, interventores, e a política pegava fogo entre os partidos mais conhecidos como Pato x Peru. Era um tal de alistar eleitores, cabos eleitorais zanzando para tudo quanto canto na caça de pessoas para se filiar neste ou aquele partido. Não havia papel que chegasse para os requerimentos de títulos, aviões teco-teco jogando panfletos pelo ar caindo por toda cidade e nós, meninos, fazendo a festa... Músicas dos candidatos cantada pelos eleitores, muitas discussões e insultos após os comícios . Era comum famílias deixarem os títulos com os coronéis, recebendo-os de volta no dia da eleição junto com as cédulas, somente na hora de votar. Certas pessoas recebiam metade da nota antes e a outra somente após a apuração (eram os chamados votos de cabresto). Nos currais eleitorais serviam comida: chegavam grandes tachos de macarronada e carne cozida, pares de botinas, cédulas prontas, se ensinava aos analfabetos a desenhar o nome ( era o voto de curral) ...caminhões chegando nas concentrações dos partidos com eleitores vindo da roça...

E numa tarde, véspera da eleição, o bar da esquina se enche de cabos eleitorais, chamam o povo, lotam o bar, baixam as portas e Zé Forgado, sem saber o partido dos tais cabos, fica até de madrugada bebendo. Era birita pra cá, cerveja tirada do caixotão de areia pra lá, e de repente um dos cabos grita “vamos dar um viva para nosso já vitorioso prefeito!” Todos enchem seus copos e Zé Forgado, já tonto, sobe na mesa, sapateia, pede atenção e dá um viva bem alto “ Viva o ... nosso líder já eleito”...

Retruca um cabo muito bêbado : “ Seu besta, caipira, idiota, o nosso prefeito é o outro!” ... e sapecaram nele uma surra que precisou ser carregado para casa todo machucado...
Em novembro de 1947 ocorreu sem dúvida a eleição municipal mais disputada da história dessa terra sesquicentenária. Venceu o PSD coligado com o PTB ( Pato) com 4.936 votos,contra 4.918 votos do PR (Peru). Com esta incrível diferença de 18 votos, em quase dez mil eleitores.
Passam os anos, mudam se os costumes e tradições. Só não mudam quando um desses filmes passa na cabeça de um menino que ouvia atento os causos e as histórias enquanto engraxava sapatos e botinas no salão de barbeiro do papai.

... E como é bom soltar o que está armazenado na memória da gente...

PAÇOCA no Pilão:

PAÇOCA no Pilão: êta trem bão!

Renilda e Sebastião

Ingredientes:

Carne a gosto, sal, farinha de milho com biju, vários dentes de alho descascados e pimenta (de preferência Cumari).

Modo de preparo:

Retalhar a carne, salgar com bastante sal, deixar por três dias dependurada ao sol. Depois lavá-la para tirar a salmora, picar em pedaços pequenos, colocar no pilão junto com a farinha de milho (de preferência com muito biju), alho e pimenta a gosto.

Pegar a mão de pilão e socar com carinho até a carne desfiar e infiltrar na farinha. Aí já se começa a sentir o aroma de uma gostosa paçoca, que nos faz recordar do pilão de nossa casa, socando o arroz, fazendo paçoca de amendoim, do fogão de lenha, do bule esmaltado na trempe... a chaleira fervendo a água e levantando a tampa, a grande lata de gordura para guardar as postas de carne, o arame estendido acima do fogão com lingüiça dependurada, toucinho, chouriço e as espigas de milho de pipoca.
Fazendo parte do fogão, um forninho para assar as quitandas ou guardar as comidas, sempre quentes.
O torrador de café, um moinho fazendo sentir um gostoso aroma de café moído, e o grande tacho de cobre para fazer os mais diversos doces caseiros de uma época não muito distante, quando à tarde, eram colocados bancos, cadeiras, tamboretes, nas portas das casas e os vizinhos tinham tempo e o prazer de se sentarem para um dedo de prosa...
E assim o tempo vai passando e a gente memoriando.


Passos / Junho – 2008