segunda-feira

Coisas de criança

*Para meu neto Alex Júnior

“Criança feliz que vive a cantar...”

Vendo meu neto brincar com seus carrinhos e brinquedos eletrônicos, nesta era dos vídeo–games, computadores, DVDs e de tudo que se possa imaginar , encostei a cabeça no sofá e fiz uma viagem no tempo de minha infância. Viajei descalço, correndo pelas ruas de chão batido. Voltei ao mesmo lugar de quando criança, e percebi que o propósito da vida de toda criança é o brinquedo.
Para a criança, basta pouca coisa. Brincar de pique, empinar pipa, brincar na água e outras coisas são razões para viver sorrindo. Para elas tem sentido aquilo que entra pelos olhos, pelo ouvido, nariz e boca. Para a criança não tem rezas, terços ou orações. Ela não é curiosa com as coisas de Deus (por estar sempre em paz com Ele).
Nós, adultos, vamos deixar de ser sérios por um dia, desabotoar o colarinho, vestir um short, deixar a voz mandante, tentar ainda jogar pião, correr pela rua empinando pipa, rir com a molecada, jogar bolinha de gude na toca, deixar um pouco o trabalho, voltar a brincar, reaprender a fazer nossos brinquedos.
Quem não sabe brincar e fazer seus brinquedos nunca foi criança.
Vamos criar na imaginação, juntos com os netos, fazer de sabugos de milhos os bois, de lata de sardinha os carros, telefone de barbante e caixa de fósforo, como se fazia uma forquilha para estilingue, ou contar a eles como era fazer uma viagem de maria-fumaça, ver o trem percorrer os trilhos da estrada de ferro e encostar na plataforma das saudosas estações.
Vamos por um dia ainda nos sentir “menino”, soprar bolhas de sabão, chupar frutas e lambuzar a boca, limpar com o dorso da mão, contar aos netos as histórias que, sentados, caladinhos, ouvíamos quando criança.
O adulto passa a ficar carrancudo quando perde a graça e a leveza brincalhona de uma criança, mas, quando a gente se descobre outra vez criança, torna o corpo mais leve, qualquer coisa provoca sorrisos e faz bem para a alma.
Mas para fazer tudo isso de novo, precisamos voltar a ser criança, porque o tempo na infância é comprido, anda devagar, demora a passar, as férias custam a chegar, e na velhice os anos passam em dias, semanas.
Aí os adultos, ao lerem este artigo, vão dizer: “isto é coisa de criança”.

Sebastião - outubro 2006

Nenhum comentário: