quinta-feira

Doces Lembranças em tempos de pesadelo

"Que alguém do povo faça nascer poesias das lembranças, dos sofrimentos e da luta cotidiana, é algo que comove e alegra. Não que o Zé, a Maria, a Joana, o Joaquim não façam da vida um labirinto caça-palavras em busca de sua afirmação como povo. Mas daí a esculpir a lembrança, a memória e a tradição nessa madeira quase intratável das palavras, reservada aos "doutores", é muita ousadia do "marceneiro Lázaro". Ganha São Jose da Barra, ganha Passos, ganham as Minas Gerais, ganham as vozes anônimas que subvertem a ordem do discurso (e o discurso da ordem) a partir do código contra-hegemônico dos do andar de baixo. Código nascido das conversa em torno do fogão de lenha, no boteco da esquina, na beira do rio, na feira de domingo, nos velórios, na missa de domingo.


Assim como meu amigo René Ribeiro me falava um dia desses, que é muito bom a gente ter poder comentar respeito da obra do Sr. Lázaro Freire. Ele explicava que as obras do Lázaro (Lembranças) e do Sebastião (Memoriando), tem ajudado a revermos os nossos (pré)conceitos no que se refere à produção literária. Estas experiências têm nos encorajado a registrar as histórias dos nossos pais, que são também as nossas histórias. São fatos e casos registrados e contados de um jeito que mexe principalmente com a nossa inteligência emocional. Pois é, "Lembranças" se soma a "Memoriando". Deve vir muito mais por ai, certo? De repente outros resolvem escrever casos também, como minha mãe tá no caminho há algum tempo com poesias.

Não caiamos no erro de superestimar uma obra artística sufocando-a com o peso de obra sociológica. Definitivamente não é isso. Para mim, arte é arte, engajada ou não! `Às vezes quem interpreta é quem coloca palavras na boca do artista. Não parece ser o caso aqui! Porque tem sido cara `a nossa gente a exclusão cultural, o consumo enlatado e a transformação da memória em mercadoria, em fetiche, recebo com alegria o convite para o lançamento de "Lembranças". Sem jogar nas costas do velho Lázaro responsabilidade maior do que viver e resistir, seus "causos" vão resgatar vivências cheias de magia, de arte e de poesia. Não tem escapatória: em tempos tristes de letargia como o nosso, "Lembranças" é, voluntária ou involuntariamente, luz na luta pelo direito à memória. Quero porque quero comprar o livro! Parabéns ao seu Lázaro!"

Jaime Amparo Alves
amparoalves@gmail.com

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