domingo

Quem entende essa língua de sapateiro?


Algum tempo atrás, a Globo, isso mesmo, a Rede Globo procurou a Sapataria Nossa Senhora da Penha e falou com essa turma sobre a língua de sapateiro. Já pensou? Tem base?


Quem entende essa língua de sapateiro?


Existem línguas de todos os tipos. E dos milhares de dialetos em extinção que ainda se falam no planeta, um é exclusivo de Passos/MG. É a antiga língua-ou "lingüiça"- de sapateiro, feita pra guardar segredos e fazer graça.


Ainda hoje você corre o risco de entrar numa sapataria em Passos e ouvir uma conversa esquisita. Frases estranhas, desconexas. Mas essa é uma linguagem antiga, surgida ninguém sabe quando, que faz muito sentido para os sapateiros. Pelo menos para os mais velhos. Gente como o seu Sebastião Borges, que gosta de surpreender as moças da cidade. Diz um amontoado de absurdos e depois explica que está ...elogiando. Mas a verdade é que ninguém pode ter muita certeza, porque não existe dicionário da tal língua.


A transmissão sempre foi feita no boca a boca, de pai para filho. Os mais novos aprendiam ouvindo os mais velhos. E a intenção não era só fazer brincadeira. Os sapateiros também usavam o recurso para dizer coisas "politicamente incorretas". Ou para falar mal de alguém. Ou para fazer fofocas. Tudo em código!A repórter da EPTV Sul de Minas, Juliana Bressan, esteve numa sapataria em Passos, onde ainda hoje é possível reunir os "lingüistas" do tempo do zagaia. E articulou uma frase inteirinha, aprendida na hora: "andorinha omega feijão chateaubriand tavico a quilômetro". Vamos entender, termo a termo.


Para os sapateiros, o nome de um passarinho (andorinha), aliado à última letra do alfabeto grego(ômega), mais o feijão nosso de todo dia, o sobrenome Chateaubriand, junto com um "otávio pequeno" (tavico) mais quilômetro- tudo isso junto- significa:-"Freguês feio e chato acaba de chegar!"Ah, cuidado com eles! Outra "frase de sapateiro": "presente rabanete presunto dinamite". Essa aí era dita sempre que um ex-juiz da velhíssima guarda passava por perto. E não era nada boa. Queria dizer: "ele tem rabo preso na cidade". De novo, cuidado com eles! Os sapateiros de Passos contam que brincavam muito com um velho bispo. Ele, bom homem, muito bonachão, se divertia com a língua que não entendia.


E eles aproveitavam para falar o que deviam...e o que não deviam...Ah, esses sapateiros! Até hoje eles riem muito com todas essas lembranças. Só lamentam que a língua esteja em extinção, porque, convenhamos, além de ser a linguagem de um grupo pequeno, é também sigilosa. Secretíssima.


Só para iniciados, vão aqui algumas palavras:

pingola-pinga

quirino-quer

frenete ou feijão- feio

morcega ou mobília- mulher

dinamite ou ditadura- dinheiro


Sabendo disso tudo, quando você for a Passos e precisar de uma meia sola, já chegue rasgando: "Dou pouca dinamite e não quirino pingola!"Quem sabe assim você ganha, além do desconto, a amizade dos sapateiros da pá virada e umas boas gargalhadas.


Veja aqui o vídeo



6 comentários:

André disse...

Olá, tudo bom? Estudo Comunicação na Universidade Federal de São João del-Rei e estou realizando uma pesquisa sobre a língua de sapateiro. Se for possível, poderia me enviar um e-mail? Meu endereço é afsalmeron@gmail.com. Grande abraço!

Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dias disse...

Olá. Soy de Passos e na época de minha infância usavamos essa linguagem pra falar das meninas moças e também de alguém por perto que não entendia a tradução. Isso foi na época da ditadura e muitos me diziam que ela era proibida que havia até mesmo o risco de ser preso pelas autoridades policiais nao entenderem o significado. Uma língua clandestina. ABS Édson.

Edilete Silva Valadão disse...

Gostaria muito de ver esse video e não estou conseguindo, sou de Passos e filha do sapateiro Jose Valadão, gratidão.

Unknown disse...

Era bem jovem e tinha um sapateiro aqui próximo de casa que falava e nos ensinava era bem diferente

Unknown disse...

O sapateiro era o Alcides Belfort aqui de passos mg tem muita gente aqui no bairro do tempo antigo que fala